As contínuas e rápidas transformações da sociedade atual, em função do crescente e impactante avanço científico e tecnológico observado nas últimas décadas, refletem-se intensamente no espaço escolar, impondo-lhe novas e complexas demandas. Isso requer de todos que fazem a escola, um esforço de ressignificação de concepções e práticas docentes, curriculares e administrativas, de modo a se assegurar a oferta de uma educação de qualidade a todos os seus alunos e alunas.

Essa qualidade da educação, entendida, segundo o relatório Jaques Delors, 1996, como a que oportuniza as aprendizagens consideradas como pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver, coloca a escola diante do desafio de rever, prioritariamente, seus investimentos na formação continuada do seu corpo docente,  para realizar as mudanças educacionais necessárias, com vistas a formar alunos(as) que desenvolvam sua autonomia moral e intelectual ao construírem desde a educação infantil e por toda a educação básica, competências para a vida.

Para atenderem a essas novas expectativas profissionais, os (as) professores (as) precisam ressignificar concepções e práticas pedagógicas, para obterem uma visão mais global e sistêmica do processo ensino-aprendizagem, que lhes possibilitará delimitar novas possibilidades e limites a sua atuação, enquanto mediadores entre os alunos e os diferentes objetos de conhecimento, transpostos para o contexto escolar como conteúdos  a serem ensinados e aprendidos.

Nesse papel de co-protagonista do processo ensino-aprendizagem, os professores(as) provocam, a partir de intervenções bem planejadas e adaptadas, a atividade cognitiva do aluno, despertando a sua motivação para aprender e orientando-o para regular o seu próprio processo de aprendizagem, aprendendo a aprender.

Para o efetivo exercício desse papel, cada vez mais têm sido exigidas dos(as) professores(as), novas competências profissionais que os(as) tornem capazes de, segundo Perrenoud, “mobilizar diferentes recursos (conhecimentos, habilidades, atitudes, normas e valores) das várias áreas de conhecimento, em situações reais complexas, com eficácia e segurança, para resolver problemas” com os quais se defronte na sua ação pedagógica cotidiana.

Entre essas novas competências exigidas aos professores, apontamos aquelas que no nosso entender mais o auxiliariam na gestão da sala de aula numa perspectiva interativa, dialógica, pautada no atendimento à diversidade, meta a ser perseguida por todas as escolas comprometidas com a qualidade da educação. São elas:

  •   Ser capaz de elaborar e gerenciar situações de aprendizagem mais globalizadoras/ diversificadas e que façam sentido para os alunos;
  •   Selecionar e elaborar/ criar recursos de ensino, adaptando-se às demandas particulares dos seus alunos
  •   Dominar procedimentos básicos de pesquisa e de desenvolvimento de projetos;
  •   Saber trabalhar em equipe, de forma cooperativa e interdependente, construindo consensos necessários em torno das prioridades educacionais da instituição e contribuindo, também, para provocar o avanço nas práticas dos seus parceiros de trabalho
  •   Dominar o uso de ferramentas tecnológicas para favorecer a construção de significados por parte dos alunos;
  •   Ser um usuário competente da língua oral e escrita, com boa capacidade de escuta e de argumentação, na defesa dos seus pontos de vista
  •   Tematizar a sua própria prática, estudando continuamente e refletindo sistemática, crítica, individual e coletivamente sobre ela, compartilhando-a com outros e comparando-a a outras práticas.

Com o objetivo de assegurar uma prática pedagógica de qualidade (atual, reflexiva, crítica, criteriosa e numa constante busca de significado), o Colégio APOIO, em Recife,  investe, prioritariamente, na formação continuada do seu corpo docente visando a tornar seus(suas)  professores(as) cada vez mais autônomos(as) no exercício da sua função, efetivos(as) construtores(as) do seu saber, seu saber fazer e seu saber ser.

A mais importante fonte nesse processo de formação continuada é a prática pedagógica porque é nela que os(as) professores(as) expressam suas concepções de homem, de escola, de educação de cultura, de cidadania, entre outras; seus conhecimentos e experiências prévios, seus valores e atitudes, revelando-se por inteiro.

Para aprender a partir da prática, é preciso refletir, sistemática, crítica e coletivamente sobre ela, problematizá-la, questioná-la, compartilhá-la com outros, compará-la a outras práticas. Nesse confronto, surge a necessidade de que conhecimentos teóricos sejam apropriados construtivamente pelos(as) professores(as), para que eles(as) possam aprofundar suas reflexões e exercer sua função docente com segurança e autonomia.

Além de contemplar a formação científica, técnica e profissional do(a) professor(a), que requer sólido embasamento teórico, o nosso projeto de formação continuada  do corpo docente  prioriza a formação pessoal, voltada para a construção de conteúdos afetivos e atitudinais que favorecem ao(à) professor(a) um maior autoconhecimento, segurança nas relações interpessoais e no enfrentamento dos possíveis conflitos delas advindos.

Nesse sentido, compete aos responsáveis por orientar essa formação continuada do corpo docente (formadores), elaborar, com a contribuição efetiva dos(as) professores(as) – formandos(as), itinerários personalizados de formação, de modo a possibilitar que a reflexão sobre a prática e os estudos teóricos dela decorrentes incidam sobre os reais problemas com que se depara cada professor na sua ação docente, em função das suas formas próprias de analisar e interpretar a realidade de sua sala de aula e de sua profissão.

Num modelo construtivista de formação de professores, é, indiscutivelmente, necessário que se garanta, no âmbito das instituições de ensino, tempo previsto na jornada de trabalho para a operacionalização de diferentes  estratégias formativas, priorizando-se o acompanhamento contínuo da prática pedagógica por formadores(as) bem preparados(as) para orientar os diferentes percursos formativos dos(as) professores(as), tanto numa dimensão objetiva-racional ( formação técnica-científica), quanto na dimensão subjetiva-afetiva( formação voltada para a construção de conteúdos atitudinais que favoreçam um maior autoconhecimento e conhecimento do outro e segurança nas relações interpessoais e no enfrentamento dos possíveis conflitos delas advindos).

Uma melhor preparação do corpo docente, também nessa dimensão afetiva-relacional deve ser priorizada, tanto pelos (as) professores(as) quanto por seus (suas) formadores(as), uma vez que eles (as) precisam saber lidar no cotidiano escolar, com as repercussões negativas no comportamento de muitos alunos, dessa crise de valores por que passa a atual sociedade, manifestada na deterioração das relações interpessoais dentro e fora da família, no desrespeito às normas sociais, na descrença generalizada nas instituições que historicamente funcionaram como referências para a maioria das pessoas, na insegurança social.

A atuação de um (a)professor(a) seguro emocionalmente, que saiba usar da autoridade com sensibilidade e respeito aos alunos, porém com firmeza e coerência, poderá vir a minimizar os crescentes problemas comportamentais que se observam na maioria das salas de aula da atualidade e que tanto têm prejudicado a aprendizagem de muitos alunos.

Uma formação nessa dupla dimensão requer disponibilidade, abertura ao diálogo, à crítica e à cooperação, além de redobrado empenho por parte dos (as) professores(as), para que possam articular processos de ação - formação – investigação e tornarem-se competentes profissionais de educação.

Rejane Maia   

a

[]