1- O que é o Construtivismo?

O Construtivismo vem se apresentando desde os finais do século XX como uma alternativa de resposta a diversos problemas educativos observados nas escolas tradicionais.  

Entre esses problemas, destaca-se a distância entre o que os(as) alunos(as) podem e têm interesse de aprender e o que a escola, de fato, lhes apresenta, o que justifica o baixo nível de engajamento e aprendizagem  de muitos alunos e alunas que frequentam escolas tradicionais. 

No Brasil, o Construtivismo vem sendo pesquisado e discutido nos meios acadêmicos desde a década de setenta, enquanto uma teoria que explica como se dá o processo de aquisição de conhecimentos ou o processo de aprendizagem.  No entanto, foi nos anos 80 que se tornou mais conhecido, a partir das pesquisas e ideias de Emília Ferreiro e Ana Teberosky sobre a aprendizagem da língua escrita, inspiradas no construtivismo piagetiano. 

As ideias de Piaget e Vygotsky, teóricos construtivistas, foram uma contribuição fundamental na elaboração de um pensamento construtivista no âmbito educativo.

 

2- Em que uma escola construtivista se difere de uma tradicional?

Na escola construtivista, que faz oposição à concepção tradicional de aprendizagem, o aluno é o centro do processo de aprendizagem, exercendo um papel de protagonista e participante ativo, aprendendo, principalmente a partir das trocas com seus pares e com seus(suas) educadores(as). A ênfase do processo de aprendizagem está na experiência do(a) aluno(a), no reconhecimento e validação dos seus conhecimentos prévios e na apropriação ativa e criativa dos conhecimentos histórica e socialmente construídos.  Essa escola, em permanente transformação, aberta e em diálogo permanente com o mundo fora dos seus muros, objetiva formar integralmente  seus alunos e alunas, para  que desenvolvam plenamente suas potencialidades  e capacidades cognitivas, afetivas e sociais e atuem na sociedade como verdadeiros cidadãos do mundo. Já a escola tradicional entende que o processo de aprendizagem ocorre fundamentalmente por meio da transmissão e acúmulo de conhecimentos, considerando o(a)  aluno(a)  como receptor passivo dos conhecimentos selecionados pela escola. Há uma prioridade para a quantidade de  conteúdos a serem ensinados muito mais do que para a qualidade da aprendizagem que os alunos são, de fato, capazes de assimilar.

 

3- O Construtivismo é um método de Alfabetização?

De forma alguma. Inclusive, não existe método construtivista. O construtivismo, como já dito acima é uma teoria, entre outras, que explica o processo de aprendizagem. A partir dessa teoria, criaram-se muitas propostas pedagógicas baseadas na concepção construtivista de ensino- aprendizagem. Por um equívoco, entre muitos cometidos a respeito do construtivismo, por falta de real conhecimento da teoria, algumas escolas utilizaram as pesquisas e ideias de Ferreiro e Teberosky sobre como as crianças aprendem a ler e escrever como se fossem um método de alfabetização e não construíram suas propostas de alfabetização baseadas nas contribuições da Psicogênese da Língua Escrita, teoria criada pelas referidas educadoras, que desloca o foco do como se ensina a ler e escrever para o como o aluno aprende tais competências linguísticas. As pesquisadoras investigaram a atividade mental  construtiva das crianças na  compreensão do funcionamento do sistema de escrita alfabético e deixaram um rico legado para os educadores construírem consistentes propostas de alfabetização a partir de todo o seu fecundo estudo. 

 

4 - Que vantagens o Construtivismo tem sobre outras linhas de ensino?

O Construtivismo destaca-se em relação a outras linhas de ensino pelo fato de conceber os conteúdos específicos das matérias não como fins em si mesmos, mas como meios para o desenvolvimento de capacidades/ competências mais gerais nos alunos, que lhes permitam dar sentido a esses conteúdos. O processo de ensino-aprendizagem voltado para a construção de competências é o que na atualidade está sendo indicado para todo sistema ou projeto educativo de qualidade. 

Construir competências requer bem mais do que apenas dominar conteúdos, que é o foco da maior parte das linhas de ensino. O Construtivismo não defende a eliminação de conteúdos. Indica que estes sejam selecionados, sequenciados, carregados de significado e avaliados com critérios formativos e não apenas seletivos.

 Uma prática educativa de base construtivista produz resultados de aprendizagem mais duradouros e transferíveis do que os obtidos como resultado de outro tipo de prática educativa.  

Alunos(as) formados(as) por escolas construtivistas são na sua maioria mais seguros (as)de si, conscientes de seus limites e possibilidades; autônomos(as) moral e intelectualmente, criativos(as), questionadores(as), com bom senso e capacidade de comunicação por meio de múltiplas linguagens e mais preparados(as) para aprender a aprender.

 

5 - Como se aplica o Construtivismo na sala de aula?

Nossos professores e professoras, referendados no Construtivismo, procuram, na gestão do seu grupo classe, apurar a sua escuta e o seu olhar, tornando-os mais sensíveis para as reais possibilidades de cada aluno(a) construir aprendizagens  significativas, já que, além do  processo de aprender ser múltiplo (não há uma forma única de se resolver um problema, de realizar um procedimento, de desenvolver atitudes ou construir um conceito), cada aluno(a) é único(a), diferente nas estruturas e formas de ser, sentir, pensar e agir, as quais vão sendo construídas na interação do sujeito-aprendiz com os conteúdos escolares ( objetos de conhecimento revestidos de significado), com seus professores(as) e colegas, numa verdadeira comunidade de aprendizagem, onde todos aprendem uns com os outros, dentro e fora das experiências escolares.

Sendo assim, investem inicialmente desde a Educação Infantil em propor atividades diversificadas para investigar as ideias prévias dos alunos, valendo-se do uso de diferentes linguagens, a fim de favorecer a compreensão e consequente expressão de suas formas próprias de pensar sobre diferentes objetos de conhecimento ( conteúdos escolares). Em seguida, organizam desafios nos quais a distância entre o que os(as) alunos(as) sabem e o que têm que aprender seja adequada, a fim de se garantir uma aprendizagem significativa dos conteúdos trabalhados.

Todas as propostas devem partir de problemas, a partir dos quais seja possível reelaborar os conteúdos escolares e orientar os alunos para a sua resolução, prioritariamente feita de forma coletiva, colaborativa, a partir do uso de metodologias ativas e diversas situações didáticas. 

Além de orientar um trabalho diversificado com estratégias/desafios de várias naturezas e graus de dificuldade, cabe aos professores construtivistas oferecer ajudas adaptadas às demandas individuais dos alunos, criando Zonas de Desenvolvimento Proximal ao intervir no processo de construção que cada um(a) realiza, ajudando-os (as) a percorrê-las.

Os(As) alunos(as) devem ser organizados em grupos fixos ou móveis, reduzidos ou com maior número de componentes, em função da atividade pedagógica a ser realizada, de forma a potencializar a teia de interações e os confrontos de pontos de vista, necessários à construção de significados.

É importante que os professores e professoras procurem criar um clima de trabalho baseado na compreensão e confiança, a fim de promover a autoestima e o autoconceito, sabendo, também, administrar o tempo justo para as aprendizagens individuais, respeitando os diferentes ritmos de aprendizagem dos(as) alunos(as).

Para favorecer a aprendizagem, é necessário que os(as) professores(as) procurem responder às contribuições dos(as) alunos(as), reelaborando-as ou reconceitualizando-as e retroalimentem continuamente os (as) alunos(as) com informações claras sobre o seu processo de aprendizagem, envolvendo-os (as) e comprometendo-os(as) nas diferentes etapas do trabalho (desde o estabelecimento de objetivos até a avaliação da aprendizagem), impulsionando a sua autonomia e ensinando-os a aprender a aprender. 

 

6 - A adoção do Construtivismo favorece a qualidade do Processo de aprendizagem dos alunos?

Pelo que já foi exposto acima, não resta dúvida de que o Construtivismo gera um maior engajamento dos(as) alunos(as) no processo de aprendizagem, o que é meio caminho andado para o seu êxito. O protagonismo do estudante que o Construtivismo exige como um pré-requisito favorece o grau de aproveitamento dos(as) alunos(as) nas diferentes situações de ensino-aprendizagem. 

Nas salas de aula do Colégio Apoio, desde a Educação Infantil, professor(a) e alunos(as) interatuam, pesquisam, trocam e elaboram ideias, produzem em parceria, de forma ativa, criativa, colaborativa e contínua, enriquecendo-se mutuamente. Todos ensinam e aprendem em colaboração.

 

7 - O Construtivismo no Ensino Fundamental prepara de fato os alunos para os segmentos posteriores da vida acadêmica?

Mais do que preparar os alunos para a vida acadêmica, o Construtivismo prepara os alunos para a vida nas suas mais amplas dimensões, pelo fato de ser a referência para uma prática educativa voltada para a construção de competências e habilidades, que possibilitem aos estudantes resolver problemas diversos com os quais se depara na vida acadêmica, pessoal, social e , mais futuramente, na vida profissional.

Para isso, não basta que eles saibam ou dominem uma técnica, tenham apenas a compreensão da sua funcionalidade, nem tampouco que tenham acumulado um número imenso de informações e saberes das disciplinas escolares. É preciso que as aprendizagens tenham sentido para eles(as) e lhe sirvam para uma ação eficiente diante de uma situação real. 

Com essa clareza, a equipe do Colégio Apoio possibilita ao longo de toda a educação que orienta desde a Educação Infantil e, de modo mais sistemático, no Ensino Fundamental, a formação de um aprendiz com múltiplas e competentes formas de ler e interpretar o mundo, tendo uma visão da realidade cada vez mais complexa e ampliada.

Os alunos(as) egressos do Ensino Fundamental do nosso Colégio levam consigo diferenciais na sua forma de se relacionar com os conhecimentos e aprender. São mais curiosos, criativos e inovadores; sabem pesquisar em diferentes fontes, selecionar informações e transformá-las em conhecimentos por meio de uma postura ativa e reflexiva. Fazem escolhas com maior nível de senso crítico e assumem com autonomia e segurança seus próprios pontos de vista, argumentando na sua defesa.

Demonstram, também, nas escolas que os acolhem, um verdadeiro protagonismo, capacidade de comunicação por meio de múltiplas linguagens e habilidade de conviver e respeitar as diferenças, sabendo trabalhar e aprender com os seus pares de forma colaborativa. Constituem-se em aprendizes permanentes que continuamente se transformam e transformam a realidade.

 

8 - O aluno formado pelo Construtivismo fica mais autônomo, com raciocínio bem desenvolvido e com mais senso crítico, porém mais fraco de conhecimentos?

Se entendermos como fraco um aluno que talvez tenha sido exposto a um número menor de conteúdos disciplinares, poderia equivocadamente até se dizer que sim.  O tremendo equívoco está na falta de entendimento do que, de fato, deva ser conteúdo escolar. Muito mais do que fatos e meras informações, entende-se, desde os fins dos anos 90, que são conteúdos escolares também conceitos, procedimentos e atitudes e estes são os componentes das competências, que é o que devemos desejar que nossos alunos construam.  As propostas curriculares de países mais avançados em educação se organizam por competências e habilidades e não mais por uma lista exaustiva de conteúdos. Inclusive essa tem sido a orientação da Base Nacional Comum Curricular ( BNCC- MEC), em vigor no nosso país desde 2018. Como a própria questão apresenta, um aluno formado pelo Construtivismo fica mais autônomo, com melhor nível de raciocínio e mais senso crítico, ferramentas indispensáveis para a construção das competências e habilidades que os preparem para resolver os problemas com que se defrontem nos vários campos de sua vida pessoal, social e acadêmica. E estas são bem mais importantes para a formação integral do estudante do que ter adquirido uma lista sem fim de conteúdos disciplinares, muitas vezes desarticulados entre si, que não os habilitam a seguir aprendendo com competência e autonomia vida à fora.   

 

9 - Em que difere e qual o papel do professor no construtivismo?

Diferentemente de atuar como transmissor de conhecimentos, exercendo o protagonismo na sala de aula, o professor construtivista atua como um mediador entre o(a) aluno(a) e os seus pares e entre estes e os objetos de conhecimento a serem aprendidos. Para isso, ele necessita de uma maior competência técnica para planejar e orientar situações de aprendizagem de natureza ativa e colaborativa, que mobilizem a atividade mental construtiva de seus alunos e a sua aprendizagem integral. Deve, também, saber acompanhar e avaliar o percurso de cada aluno(a) na sua aprendizagem, tendo uma visão construtiva dos seus possíveis erros, entendendo-os como indicadores da atual condição de aprendizagem do(a) aluno(a) e não como algo a ser evitado a todo custo e julgado negativamente. A partir da análise dos erros dos seus alunos e alunas, os(as) professores(as) poderão fazer as remediações (reencaminhamentos e reorientações) necessárias no processo ensino- aprendizagem, com vistas a aprimorá-lo sempre.  

O (A) Professor(a) (as) construtivista é também aquele que está em formação continuamente; refletindo cotidianamente a sua prática, com vistas a aprimorá-la sempre. A manutenção de uma atitude e crítica e questionadora na busca de melhor compreender os avanços e recuos nas múltiplas dimensões da sua atuação diária, possibilitará ao(à) professor(a) ajustar o seu fazer pedagógico em função das reais demandas dos seus grupos-classe e das inovações da educação contemporânea.  

Comprometidos com a sua profissão, sentem-se autônomos e capazes de assumir suas opiniões e ideias e tomar decisões apropriadas a cada contexto em que interagem e atuam profissionalmente. 

 

10 - É verdade que o Construtivismo defende que não se avalie o aluno por provas e com notas?

O Construtivismo enquanto teoria explicativa do processo de aprendizagem inspira as opções didáticas daqueles que o tomam como referência da sua prática educativa. Não defende tal ou qual método para se ensinar nem avaliar. As escolas construtivistas por uma questão de coerência com os princípios que escolheram para fundamentar a sua ação pedagógica, procuram realizar uma modalidade de avaliação formativa, que consiste numa avaliação a favor da aprendizagem do(a) aluno(a), reguladora e orientadora da sua aprendizagem, oferecendo-lhe e a  seus familiares informações úteis que ajudem o(a) aluno(a) a superar suas dificuldades de aprendizagem a partir de reorientações e reencaminhamentos feitos pelos(as) professores(as) com base nos,  resultados obtidos nos diversos procedimentos avaliativos e por meio de diversos instrumentos, entre eles, as provas. O uso de notas, conceitos ou índices de aprendizagem não é o mais importante em si e deve ficar a critério de cada escola ou rede de ensino. O que fato importa para a Construtivismo é que o aluno seja consciente e corresponsável pelo seu processo de aprendizagem, tome consciência de suas capacidades e limites e se empenhe ativamente na busca de aprender a partir de seus erros e seguir aprendendo com motivação e autonomia. 

Rejane Maia

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