Desde sempre moradores de favelas tiveram de enfrentar uma dura realidade, problemas em relação à saúde, economia, higiene, entre outros. Sem muito apoio do governo, as favelas sempre tiveram que arranjar formas de “se virar”. Com a pandemia do coronavírus, todos esses problemas pioraram. Por abrigar uma comunidade mais pobre, muitos não têm acesso a produtos considerados essenciais durante esse tempo, como álcool em gel e máscaras. Além disso, em algumas comunidades é difícil obter água e alimentos, dois elementos essenciais para o bom funcionamento do nosso corpo e para fortalecer nossa imunidade.

Há no país 35 milhões de brasileiros sem acesso à rede de água potável, segundo dados do Instituto Trata Brasil de 2017. Em 2018, antes da crise do coronavírus, chegou a 13,5 milhões o número de brasileiros vivendo abaixo da linha da extrema pobreza, com menos de R$ 145 por mês.

De acordo com Luana Nunes, uma mulher de 25 anos que mora em um bairro humilde de São Paulo, o isolamento social recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) ainda é uma realidade difícil de ser cumprida. Isso é devido ao fato de que faltam farmácias, grandes mercados e entregas por aplicativo e internet. Luana, quando entrevistada, afirmou: "as vendinhas daqui têm poucos produtos e, se precisamos fazer uma compra maior, elas não são suficientes e temos de ir até Parelheiros. São 30 minutos de ônibus".

Se for feita uma comparação da realidade das classes mais altas com a das mais baixas, não só nesta situação atual, mas também no dia a dia, é possível perceber como há uma diferença na forma que cada um, evidentemente, tem de lidar com essa circunstância da pandemia. Talvez, por exemplo, um advogado possa fazer home office, mas como um porteiro trabalharia de casa? Uma família que mora em apartamento com quatro cômodos pode isolar um residente infectado em algum quarto. Mas e uma família que mora em um cubículo? Como se distanciaria da pessoa doente?

Foi realizada uma pesquisa que demonstrou a seriedade dessa situação nas favelas e como a disseminação do vírus é rápida. De acordo com o dado, no dia 5 de março, as favelas do Rio chegaram a 81 óbitos, o que significa que as mortes aumentaram 10 vezes em 1 mês.

A sociedade já teve que lidar com epidemias anteriormente, como, por exemplo, a “grande peste” que atingiu toda a Europa. A epidemia surgiu por conta da fome e falta de higiene e calcula-se que, entre 1347 e 1350, ela matou cerca de um terço da população da Europa. Por conta das péssimas condições da maioria da população nos países europeus, a morte era mais comum entre as classes mais baixas.

O doutor Drauzio Varella afirmou, quando entrevistado pela BBC News Brasil: "Agora é que nós vamos pagar o preço por essa desigualdade social com a qual nós convivemos por décadas e décadas, aceitando como uma coisa praticamente natural. Agora vem a conta a pagar. Porque é a primeira vez que nós vamos ter a epidemia se disseminando em larga escala em um país de dimensões continentais e com tanta desigualdade".

Devido à falta de apoio dos governos em relação aos cuidados de saúde nas favelas, alguns moradores estão investindo em elementos que ajudam a comunidade. Por exemplo, na segunda maior favela de São Paulo, Paraisópolis, foram alugadas três ambulâncias para ajudar os necessitados e foi criada a figura “presidente de rua”, um voluntário que ajuda as 50 casas perto da dele. Dessa forma, quando ele for noticiado de que alguma pessoa está doente, ele chama a ambulância caso seja necessário.

Além disso, há algumas ONGs, empresas e fábricas que estão organizando projetos e agindo de forma solidária, doando e distribuindo cestas básicas, que incluem álcool em gel, materiais de limpeza e máscaras. Um exemplo desses projetos é o “Madrugada Sem Fome”, que está sendo executado em Belo Horizonte. Voluntários se encontram toda quarta-feira para distribuir as doações de marmitex, roupas, cestas básicas e materiais de higiene.

Mesmo com a ajuda que algumas comunidades estão recebendo, várias ainda passam por momentos difíceis. É importante termos consciência disso e tomarmos iniciativas para ajudar. Existem diversas ONGs e instituições que fazem doações, entre elas: Recife de Luta Contra o Corona, Ajude o Pilar e Covid-19 nas comunidades. Para doar ou se informar melhor, basta acessar os sites das respectivas instituições.

 

 

Clara Ramos e Clarissa Honório

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